O massacre de Orlando

orlando“Se você não segue os caminhos da família heterossexual estará fora da Nação. Na Nação onde Deus é o senhor, não tem aborto, direitos sexuais e reprodutivos, homossexualidades, mudança de gênero. Converta-se e salve-se”. A afirmação é de Berenice Bento, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), retirada do texto Heteroterrorismo e o lixo humano. São palavras fortes e que nos remetem ao maior massacre da história recente dos EUA.

Foram 50 pessoas mortas e 53 feridas, na Boate Pulse, voltada para o público de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), em Orlando, na Flórida. Segundo o FBI, o autor é um cidadão norte-americano muçulmano de família afegã. Lamentavelmente, desta vez, o que salta aos olhos é o fato de que se trata de um atentado puramente homofóbico, ou seja, de ódio exacerbado à orientação sexual do outro, em vez de ser simplesmente terrorista, como tantos outros.

Claro, não se pode deixar de lado o fundamentalismo religioso, que cega e cerceia as liberdades, inclusive, as sexuais. Triste dizer, mas o mundo hoje gira numa confluência de ódios, misturados a interesses eleitoreiros, neoliberais, capitalistas, e está vomitando uma sociedade global quase que hegemônica, de intolerância, machismo, misoginia, racismo e homolesbotranfobia. Difícil classificar de onde vem a culpa, mas fácil dizer que a responsabilidade é de todos nós.

Nos anos 90, a comunidade LGBT se reunia em guetos e isso se devia ao preconceito, às perseguições, assassinatos e espancamentos. Apesar de parecer um relato atual, os lugares frequentados por gays, lésbicas e simpatizantes (GLS), como eram chamados, foram se tornando baladas cults, frequentadas por artistas, músicos, intelectuais, enfim, por pessoas adeptas a um estilo de vida livre e menos conservador.

Pois bem, a sigla GLS caiu em desuso e, com o avanço dos direitos e das lutas encampadas pelo movimento social LGBT, os guetos foram aos poucos se diluindo nos roteiros cotidianos de bares, boates e restaurantes por todo o mundo. Isso para dizer que o ódio e a intolerância, em razão de orientação sexual e identidade de gênero transcende, extrapola essas variáveis.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da campanha Nascidos Livres e Iguais, busca aumentar a conscientização sobre a violência e discriminação homofóbica e transfóbica e maior respeito aos direitos das pessoas LGBT em todo mundo. Trata-se de uma preocupação urgente. Pois, parafraseando Paulo Freire, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Artigo publicado no Jornal O Popular em 22/06/2016

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *